top of page

SIGA

Talvez o que a gente queira mesmo é um bom par de sapato


Fui ontem ver o último balé da temporada de 2018/2019 do Bolshoi no cinema, e chegando na sessão tinham duas senhorinhas atrás de mim e uma outra senhorinha mais na frente. O balé era Petrushka, a história de um "triângulo amoroso" entre três bonecos que ganham vida: Petrushka, o Mouro e a Bailarina. Petrushka gosta da bailarina, mas a bailarina gosta do Mouro (João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria... e o resto vocês sabem). Minha cabecinha tão pensante sempre fica meio silenciosa enquanto assisto. Tanto que não percebi que as duas senhorinhas atrás de mim foram embora antes de acabar. Quando o balé acabou e os bailarinos estavam agradecendo e eu estava descendo a escada do cinema, reparei na velhinha que estava sentada nas poltronas mais da frente do cinema, ela olhava pra cima sorrindo e tão maravilhada. E eu sabia que tinha alguma coisa ali. É que alguma coisa se mantém dentro da gente mesmo depois de 10, 50 anos. Mesmo quando a casa cai, quando o dia tá chuvoso, quando a gente mal consegue levantar da cama. Quando a gente falha. Quando o café esfria. Ainda existe alguma coisa na gente que parece fazer parte do nosso corpo. Talvez seja por isso que as pessoas fazem tatuagem. Talvez seja por isso que as pessoas continuam vivendo. Por essa coisa que se mantém ali dentro. E acho que o que se mantém dentro de mim e dentro daquela senhorinha maravilhada pela bailarina fazendo a reverence, acredito que o que se mantém dentro de nós duas seja exatamente a mesma coisa.


  • Facebook Clean Grey
  • Twitter Clean Grey
  • Instagram Clean Grey

POSTS RECENTES: 

PROCURE POR TAGS: 

Nenhum tag.
bottom of page