Gineceu, cor de pólen
As vezes canso de mim
desse cheiro, dessa roupa, dessa pele
da voz, e das manias todas
canso do chá de canela com maçã, dos bolinhos,
cabelo curto e respiração encurtada
dos meus amores, meus sossegos,
minhas músicas, pinturas, cores e arte
canso das agulhas, das linhas e dos pontos mal arrematados
e avesso mal feito enquanto o lado direito sorri com esses dentes tortos
canso das formas, das minhas borboletas no estômago e paranoias desnecessárias
dos cílios, bochecha e covinhas
dos fios embaraçados, orelhas furadas, unhas pintadas e o cansaço de sempre
da inexistência da métrica e poesia mal estruturada, versos longos demais
vírgulas demais,
verbos demais,
canso das dissertações e do modo de
sentir palavras
sentir demais
de sentir quando eu nem deveria sentir nada
canso dessas pintas e joelhos saltados
das cicatrizes de espinhas e estrias mal cuidadas
das olheiras de pensar tanto
da ansiedade e angústia de meia noite
dessas flores todas
dessas listras todas
das músicas e feitiços decorados, mas das fórmulas que esqueci
canso desses dedos magros e compridos e nervosos no teclado
das unhas roídas
dos medos, anseios e sonhos
canso do meu corpo
cotovelos ressecados e histórias pela metade
das frescuras e buraquinhos no coração
canso desse excesso de açúcar em mim,
desse excesso de café em mim,
desse excesso.
meu bem, estou enjoada.