top of page

SIGA

Gineceu, cor de pólen


As vezes canso de mim

desse cheiro, dessa roupa, dessa pele

da voz, e das manias todas

canso do chá de canela com maçã, dos bolinhos,

cabelo curto e respiração encurtada

dos meus amores, meus sossegos,

minhas músicas, pinturas, cores e arte

canso das agulhas, das linhas e dos pontos mal arrematados

e avesso mal feito enquanto o lado direito sorri com esses dentes tortos

canso das formas, das minhas borboletas no estômago e paranoias desnecessárias

dos cílios, bochecha e covinhas

dos fios embaraçados, orelhas furadas, unhas pintadas e o cansaço de sempre

da inexistência da métrica e poesia mal estruturada, versos longos demais

vírgulas demais,

verbos demais,

canso das dissertações e do modo de

sentir palavras

sentir demais

de sentir quando eu nem deveria sentir nada

canso dessas pintas e joelhos saltados

das cicatrizes de espinhas e estrias mal cuidadas

das olheiras de pensar tanto

da ansiedade e angústia de meia noite

dessas flores todas

dessas listras todas

das músicas e feitiços decorados, mas das fórmulas que esqueci

canso desses dedos magros e compridos e nervosos no teclado

das unhas roídas

dos medos, anseios e sonhos

canso do meu corpo

cotovelos ressecados e histórias pela metade

das frescuras e buraquinhos no coração

canso desse excesso de açúcar em mim,

desse excesso de café em mim,

desse excesso.

meu bem, estou enjoada.


  • Facebook Clean Grey
  • Twitter Clean Grey
  • Instagram Clean Grey

POSTS RECENTES: 

PROCURE POR TAGS: 

Nenhum tag.
bottom of page