Quero virar sua pele, quero fazer uma capa

Hoje achei um casaco seu no fundo do meu guarda roupa, nessa bagunça da minha vida e do meu armário, foi o que me fez sentar na beirada da minha cama e num momento de sinestesia, só de tocar no algodão, consegui sentir o cheiro da sua pele. e eu, que sempre me prendi em pedaços que as vezes você largava pela casa, desde livros até pulseirinhas que você esquecia aqui, e que me fizeram abrir um espaço pra você na minha escrivaninha, até chegar um ponto que você já tinha feito uma bagunça na minha gaveta, no meu armário e no meu coração. desculpa ser piegas, é sério. mas que bagunça boa. sei que esse jeitinho de virgianiano ficava louco com essa bagunça, mas sempre achei um tanto quanto inspirador o emaranhado do seu corpo com o meu e o nó que nossas almas davam quando estávamos juntos. Agora sua gaveta está vazia, por algum motivo que até hoje não entendo. Mas você sabe que sempre acreditei que quando alguém passa pela nossa vida, marca a nossa epiderme com canetinha, e eu meio que sempre gostei dos seus tons pastéis em mim. Não por mera coincidência, esse casaco que por pura melancolia vesti agora, tem esse tom, que me cobre e parece que abraça cada átomo meu e quase consigo ouvir o sua rouquidão ecoando no pé do meu ouvido. E o único sentimento que me acolhe tanto quanto esse casaco cor de céu em que estou vestida é sau-da-de.